Cartas que Nunca Chegaram
O vento frio daquela manhã parecia anunciar que algo estava prestes a mudar. Helena, jornalista investigativa acostumada a desvendar mistérios políticos e crimes do presente, não imaginava que o caso de um desaparecimento simples a levaria a um mergulho profundo em memórias esquecidas. Quando entrou na velha casa abandonada nos arredores da cidade, não esperava encontrar nada além de poeira e silêncio. Mas, entre tábuas soltas e móveis cobertos, descobriu uma pequena caixa de madeira, trancada por uma fita azul desbotada.
Dentro, dezenas de cartas antigas, amareladas pelo tempo, estavam cuidadosamente organizadas. As caligrafias variavam entre delicadas e firmes, revelando um diálogo intenso e apaixonado. Eram mensagens trocadas entre um jovem estudante e uma mulher chamada Clara, separada dele por muros invisíveis e tempos sombrios. As datas coincidiam com os anos mais duros da ditadura militar, período em que palavras de amor podiam ser confundidas com conspirações e sonhos eram tratados como crimes.
À medida que lia as cartas, Helena sentia uma presença crescente, uma emoção que ultrapassava a distância das décadas. As palavras falavam de amor, medo e esperança sentimentos universais que ecoavam dentro dela. Uma das últimas cartas terminava abruptamente, com uma frase inacabada e uma mancha que poderia ser lágrima… ou sangue. A jornalista percebeu, então, que o remetente havia desaparecido na mesma época em que o nome dele surgiu discretamente em seu caso atual. Não era coincidência.
Guiada pela curiosidade e por uma sensação estranha de destino, ela começou a investigar a origem daquelas correspondências. Descobriu que Clara havia sido professora, presa por motivos políticos e libertada anos depois. E o jovem das cartas, cujo nome aparecia borrado em várias páginas, poderia ter ligação com sua própria família. A cada descoberta, as fronteiras entre passado e presente se confundiam mais. Era como se as vozes de outrora pedissem a ela que desse um fim digno à história que o tempo tentara enterrar.
No último envelope, uma carta nunca enviada revelava um segredo que mudaria tudo uma confissão que ligava sua linhagem ao amor interrompido pela repressão. Com lágrimas nos olhos, Helena compreendeu que algumas histórias escolhem quem deve contá-las.
“Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.”