O Brasil Que Cresce nas Estatísticas e Endivida o Povo
A contradição entre os números otimistas do governo e a realidade financeira das famílias brasileiras
O governo afirma que a vida do povo está melhorando. Aponta a queda do desemprego, o aumento do consumo e o crescimento do PIB como sinais de uma economia em recuperação. Mas os números do Banco Central mostram outra face dessa história: o endividamento das famílias brasileiras subiu para 48,9% em agosto, e o comprometimento da renda chegou a 28,5%.
Por trás do discurso otimista, há uma contradição profunda a de um país que cresce nas estatísticas, mas se sustenta sobre o crédito e o endividamento das famílias.
O que dizem os números
O relatório do Banco Central revela que, mesmo sem contar as dívidas imobiliárias, o endividamento alcançou 30,6%. Isso significa que uma parte significativa da renda dos brasileiros está sendo usada para pagar cartões de crédito, empréstimos e financiamentos.
O comprometimento da renda a fatia do salário destinada a pagar dívidas também subiu, passando de 27,9% para 28,5%. Ou seja, o brasileiro trabalha, recebe, mas gasta quase um terço da renda apenas para quitar dívidas antigas.
Por que isso acontece
O discurso oficial de melhora na economia se apoia em indicadores gerais que não refletem a vida real das famílias. O aumento do consumo, por exemplo, é frequentemente apresentado como sinal de prosperidade, mas grande parte dele vem do crédito fácil e não do aumento real de salários.
Em outras palavras, o brasileiro consome mais porque se endivida mais. O cartão de crédito, o crediário e o empréstimo pessoal viraram ferramentas de sobrevivência — e não de ascensão econômica.
A ilusão de prosperidade
Essa dinâmica cria um paradoxo: enquanto o comércio comemora vendas e os bancos batem recordes de lucro, as famílias se afundam em dívidas. O que o governo chama de “crescimento” é, muitas vezes, o reflexo de uma economia movida a crédito, em que o consumo imediato mascara a fragilidade da renda.
Assim, o país parece estar melhorando, mas a base dessa melhora é instável construída sobre prestações, juros altos e a esperança de que o próximo salário dê conta de cobrir tudo.
O papel do crédito imobiliário e de consumo
Os dados mostram que o crédito para habitação cresceu 11,6% em 12 meses, e o crédito para veículos aumentou 13,9%. Embora pareça positivo, isso indica que o brasileiro está assumindo dívidas de longo prazo para tentar conquistar estabilidade ou mobilidade.
O problema é que, em tempos de renda estagnada, essas conquistas vêm acompanhadas de comprometimento duradouro da renda, o que deixa pouca margem para lidar com imprevistos.
Um retrato realista
Enquanto o governo exibe gráficos, o povo sente o peso das parcelas no bolso.
O país, de fato, gera empregos e amplia o crédito mas o cidadão comum vive no limite, equilibrando contas, atrasos e sonhos.
A contradição é clara: o Brasil cresce nas planilhas, mas o brasileiro se afoga nas prestações.







