Categoria: Conto

Nem toda tempestade vem para destruir. Algumas chegam com força, derrubam certezas, levam embora o chão que acreditávamos firme, mas também revelam que é possível nascer de novo. Essa é a história de uma vida reinventada, de alguém que viu tudo desmoronar e, ainda assim, encontrou força na dor para seguir em frente.

Helena encontrava conforto nas palavras. Desde menina, escrevia diários. Guardava sentimentos, memórias, mágoas e sonhos. Mas, após a morte do marido, parou. Durante dois anos, o diário ficou fechado. A dor era grande demais para caber em frases.

Na periferia de uma grande cidade, havia uma rua esquecida pelo tempo e pelas políticas públicas. Casas com muros descascando, pichações antigas e rostos cansados que mal se cumprimentavam. Era o fim de linha do ônibus e da esperança.

Jonas sempre fora ansioso. Tudo em sua vida seguia cronogramas, metas e tabelas. Trabalhava em uma grande empresa e aguardava, há dois anos, uma promoção que parecia cada vez mais distante. O colega recém-chegado, mais jovem, acabara de ser promovido em seu lugar. Isso o devastou.

Marcela herdou a antiga casa da avó após sua morte. Era uma casa grande, silenciosa, repleta de móveis antigos e paredes cobertas de quadros todos virados para a parede. No começo, achou estranho. Depois, entendeu: eram retratos da família, escondidos pela própria avó após um desentendimento com os filhos que nunca se resolvera.

Henrique passava pela ponte velha todos os dias a caminho do trabalho, sem jamais parar. Para ele, era apenas concreto velho, grafites esquecidos e memórias que doíam. Foi ali, anos antes, que seu irmão gêmeo, Lucas, tirou a própria vida,

Era meio-dia quando Hélvio parou diante das ruínas do antigo Arquivo Central da Prefeitura. O prédio queimado em 1992 estava coberto de hera e silenciado pelo tempo. Nenhuma reforma. Nenhum vigilante. Apenas esquecimento ou assim diziam os registros oficiais.

Era quase amanhecer quando Hélvio chegou à velha Estação Leopoldina. O lugar estava abandonado desde os anos 80, mas ainda mantinha a estrutura imponente de outros tempos: relógios parados, trilhos enferrujados, placas caídas. A névoa rastejava entre os trilhos como se cobrisse segredos.

O relógio marcava 2h42 da madrugada quando Hélvio estacionou em frente ao antigo prédio do jornal A Verdade Popular, fechado desde 1996. Segundo uma anotação encontrada no arquivo de Samuelo Gadelhau Costa, aquele era o “Ponto 17” um dos locais marcados na lista com os nomes riscados.

A porta voltou a se fechar com um estrondo abafado, como se o próprio prédio tentasse conter os segredos de volta. Hélvio, com os olhos fixos na parede de fotografias antigas, sentiu um calafrio percorrer a espinha. Agenor,