Depois de mais de um ano de corrida eleitoral acirrada, os candidatos Donald Trump, do Partido Republicano, e Hillary Clinton, do Partido Democrata, finalmente estarão frente a frente, hoje (26) à noite, em um debate de 90 minutos, na Universidade de Hofstra, em Long Island, Nova York, que poderá definir o resultado das eleições para presidente dos Estados Unidos, marcadas para 8 de novembro de 2016. Segundo a imprensa americana, o debate poderá bater o recorde de audiência de eventos políticos transmitidos ao vivo pela televisão, podendo até mesmo ultrapassar a marca de 100 milhões de telespectadores.
A cinco semanas das eleições, os responsáveis pela estratégia de marketing dos dois candidatos estão preocupados não apenas com o impacto do debate pela televisão, mas também com a repercussão de cada gesto, comentário ou expressão facial dos candidatos pelas redes sociais. Como os dois candidatos estão tecnicamente empatados nas pesquisas da rede de televisão ABC News e do jornal The Washington Post, com vantagem de dois pontos para Hillary Clinton, dentro da margem de erro, os coordenadores das campanhas de cada partido estão preocupados com a possibilidade de que seus candidatos cometam deslizes que possam ter consequências sobre o resultado das eleições.
Os admiradores de Trump esperam que o candidato republicano repita no debate de hoje as suas apresentações em comícios durante a campanha eleitoral. Foi com seu estilo debochado, mordaz e falastrão que agradou multidões e venceu 16 experientes políticos que queriam ser candidatos pelo Partido Republicano, na fase das primárias. O problema, porém, para Trump, é que ele não se sente confortável para abordar assuntos em profundidade. Nesse quesito, ele pode ser surpreendido por Hillary Clinton, que durante a campanha eleitoral mostrou memória fabulosa para analisar e descrever dezenas de assuntos que normalmente fazem parte do dia-a-dia do presidente dos Estados Unidos.
Habilidade
Segundo a campanha de Hillary Clinton, a candidata tentará explorar a falta de habilidade de Donald Trump para defender suas propostas por meio da apresentação de números e fatos. Com isso, a adversária de Trump tentará apontar contradições e "mentiras" no discurso do candidato republicano. "Parece-me que o que é preocupante em Donald Trump é, em primeiro lugar, o fato de ele não falar a verdade frequentemente", disse o diretor de campanha de Hillary Clinton, Robby Mook, em entrevista à CNN. Ele acrescentou que a estratégia de Hillary deverá ser a de "gastar algum tempo [do debate] corrigindo os números e procurar ter certeza de que o eleitorado estará compreendendo os fatos".
Em outra entrevista, ao programa This Week, da rede de televisão ABC News, Robby Mook afirmou que a campanha de Hillary Clinton está preocupada com a ocorrência de um "duplo padrão" no debate de hoje à noite, em que Donald Trump possa dizer "mentiras" e ainda receber uma "nota de aprovação" dos críticos. "Tudo o que estamos pedindo é que, se Donald Trump disser mentiras, que isso seja apontado", disse.
Guarda de trânsito
Robby Mook disse ainda que "é injusto pedir que Hillary Clinton desempenhe o papel de guarda de trânsito com Trump, certificando-se de que suas mentiras sejam corrigidas e, ao mesmo tempo, tendo que apresentar a visão do que ela quer fazer para o povo americano".
Em resposta à acusação dos democratas, o candidato republicano a vice-presidente, Mike Pence, disse que seu companheiro de chapa, Donald Trump, vai dizer "absolutamente a verdade" durante o debate. Em entrevista ao programa Face the Nation, da CBS News, Mike Pence garantiu que "Trump vai falar a verdade, e por isso todos estão vendo o tremendo impulso [dos republicanos] nesta campanha".
Na visão de outra emissora de televisão a cabo e de transmissão por satélite - a MSNBC News - o debate de hoje à noite não vai ser apenas uma discussão sobre as diferentes visões políticas de Hillary Clinton e de Donald Trump. "Será também uma prova de como os detalhes da política são importantes em tudo", afirma a emissora.
De acordo com a MSNBC News, Hillary Clinton vai se comportar, como ela vem fazendo na campanha até agora, como se estivesse concorrendo ao cargo de presidente do Banco Central.
Ela debaterá com o candidato republicano que, na visão da emissora, mais se assemelha a um "especialista" preocupado em analisar a campanha eleitoral, do que a um candidato que pretenda um dia "liderar a nação mais influente do mundo". Em resumo, segundo a MSNBC News, Hillary Clinton tem desempenhado o papel de candidata que tem planos complicados e detalhados sobre quase todos os assuntos, desde a criação de faculdades que não impõem dívidas para as famílias americanas de classe média até propostas para ajudar crianças e adultos que sofrem de autismo. Em contraste, Donald Trump tem muito menos propostas de políticas detalhadas "e fala mais em generalidades sobre sua visão para governar", diz a emissora.
Cidadania
Em uma preparação para o debate de hoje, a revista Politico analisou os últimos discursos de Hillary Clinton e de Donald Trump e concluiu: Trump tem mais propensão para o exagero do que Hillary. E citou o exemplo da "audaciosa" declaração de Trump duvidando da cidadania norte-americana do presidente Barack Obama. "Trump construiu uma indústria em torno do assunto" para esticar a suposta verdade de sua declaração, diz a revista.
O debate será moderado pelo âncora do programa Nightly News da rede de televisão NBC, Lester Holt. Além do debate de hoje, haverá mais dois entre Hillary Clinton e Donald Trump antes das eleições. Um deles será em St. Louis, no estado de Missouri, em 9 de outubro. O outro em Las Vegas, no estado de Nevada, em 19 de outubro.