Seis rodadas do Campeonato Brasileiro. E o que vemos de novidade no futebol brasileiro? Ou ainda, o que vemos do que vimos no ano passado, quando um mágico Flamengo ganhou o Brasileirão e a Copa Libertadores, algo só realizado pelo Santos de Pelé, em 1962 e 1963? Onde está a alegria do futebol brasileiro, a vibração que vivenciamos em algumas partidas do Brasileirão, em especial, quando o Flamengo do português Jorge Jesus estava em campo?
São outros tempos. A bola parou de rolar, as férias foram no meio do ano, não temos torcida, a pandemia do novo coronavírus segue nos ameaçando, tudo isso podemos, e devemos, levar em conta. Mas, e o desempenho dos jogadores, a intensidade dos treinos, a novidade tática, a improvisação?
Dois parágrafos, muitas perguntas, mas ainda cabe mais um questionamento: que lição o Jorge Jesus deixou que esteja sendo utilizada por aqui? Se havia uma - a do não rodízio de jogadores em cada competição - nem essa prevalece. Inclusive no próprio Flamengo.
Aliás, acho fundamental que não se queira comparar o Flamengo de 2019 com o atual. Não só por todas as situações listadas acima, como também porque o grupo é outro, além do técnico.
A chegada de Jorge Jesus ao Brasil provocou polêmicas, muitos criticaram o investimento do Flamengo em um técnico estrangeiro, houve piadas, provocações e, por que não, ciúmes. O fato é que o técnico, com títulos conquistados em Portugal e sem voos mais altos pela Europa, mostrou que havia muito a ensinar. Marcação alta, busca incessante pelo ataque e por muitos gols. Com um time de grandes jogadores, em fase excepcional e, talvez, num momento especial na carreira, a fórmula deu muito certo. E o que chamava a atenção? Os titulares não eram poupados, uma prática corriqueira no nosso futebol.
JJ se foi e, verdade seja dita, antes mesmo de partir, depois de conquistar mais dois títulos a Supercopa e a Recopa Sul-Americana -, o Flamengo dele já não era o mesmo. Ganhou o Campeonato Carioca, mas, nos jogos finais, não brilhou.
Veio o Brasileirão. E além da ideia da marcação alta, para dificultar a saída de bola do adversário, nada mais se vê por aqui. Com poucos craques para definir jogos ideia que sempre prevaleceu -, vemos partidas arrastadas, lances bisonhos que se tornam motivos de piada na internet. Nenhum time sequer mostra condicionamento físico para aplicar um ritmo mais intenso.
A média de gols é baixa, de 2,07 por partida ano passado foi de 2,31 e, a mais baixa, da era dos pontos corridos, foi 2,15 (2018).
É triste imaginar que a tendência é piorar. Setembro chegou e vamos ver como os clubes reagirão a tantos jogos pela frente, sem tempo para treinar. Quem tiver mais alternativas de qualidade no grupo de jogadores sentirá menos essa sequência. Isso é mais do que certo.
Como é certo, também, que as lições de Jorge Jesus ou não foram assimiladas, ou o futebol brasileiro não tem condições de implantá-las.
Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/
Da coluna de Sergio du Bocage, apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil