Na Rua 27, havia uma rotina tão peculiar quanto discreta, marcada pela figura de Hélvia, uma jovem de traços serenos e olhar perdido, que todos os dias, pontualmente às seis da tarde, repetia o mesmo ritual: saía de sua casa vestindo sempre o mesmo casaco azul-marinho, caminhava até a esquina da rua e, sob o velho poste de luz amarelada, permanecia imóvel por exatos vinte minutos. Não falava com ninguém, não olhava para os lados. Apenas ficava ali, com as mãos enfiadas nos bolsos e os olhos fixos no chão de paralelepípedos, como quem esperava por algo ou alguém.
Os moradores da rua, embora intrigados, nunca se atreveram a questioná-la. Ao contrário, seguiam suas rotinas como se nada acontecesse, desviando o olhar ou apressando os passos quando passavam por ela. Alguns diziam que era loucura, outros, superstição. Havia até quem acreditasse que era uma promessa antiga, da qual ela jamais falava. O fato é que, ao longo dos anos, aquele hábito tornou-se parte da paisagem da Rua 27, tão presente quanto as fachadas desgastadas das casas ou as árvores que sombreavam as calçadas.
Hélvia nunca explicou o motivo de sua presença diária naquele ponto da rua. Nem mesmo quando a curiosidade infantil das crianças se transformava em perguntas inocentes, ela rompia o silêncio. Apenas sorria de maneira quase imperceptível e continuava a esperar, dia após dia, como quem guarda um segredo que não pode ou não quer ser revelado.
Alguns vizinhos especulavam que ela aguardava alguém que nunca voltou, um amor perdido, talvez. Outros acreditavam que aquilo fazia parte de um luto silencioso ou de uma promessa feita no passado. Mas, com o passar do tempo, as hipóteses foram se perdendo e restou apenas o ritual silencioso, respeitado por todos, mas compreendido por ninguém.
O estranho hábito de Hélvia nunca foi quebrado, nem mesmo em dias de chuva forte ou de calor escaldante. Lá estava ela, sempre pontual, sob o mesmo poste de luz, como uma sentinela do tempo ou uma guardiã de lembranças invisíveis.
E assim, o comportamento repetido de Hélvia permaneceu um enigma na Rua 27, um daqueles mistérios cotidianos que todos veem, mas fingem não perceber, temendo, talvez, o que poderiam descobrir se perguntassem.