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Conto 25/05/2025

Silêncio na Madrugada

Silêncio na Madrugada

Hélvio nunca soube o que era dormir uma noite inteira. Há anos, o detetive circulava pelas ruas vazias da cidade como quem percorre os próprios pensamentos: em silêncio e com cautela. Não bebia café, não fumava, mas carregava nos olhos o mesmo cansaço dos que nunca largam vícios.

Naquela madrugada fria, algo quebrou a monotonia habitual: um chamado anônimo indicava um arrombamento em um prédio antigo no centro. O local, que um dia fora um teatro movimentado, agora abrigava apenas o eco de passos esquecidos. Sem sinais de violência, sem testemunhas, apenas a porta entreaberta e uma estranha marca na parede: três círculos entrelaçados, desenhados com precisão matemática.

Hélvio acionou a lanterna e avançou lentamente pelo salão principal, iluminando poltronas cobertas de poeira e cortinas rotas. O ar cheirava a madeira úmida e segredos. No palco, um piano fechado, intacto, como se esperasse alguém. Ao se aproximar, percebeu que uma única tecla estava afundada a nota Dó, imóvel como se alguém a pressionasse invisivelmente.

O detetive sabia reconhecer uma cena montada: aquele símbolo, aquela tecla... Não era um arrombamento qualquer. Mas o que esperavam que ele encontrasse ali?

Enquanto caminhava em direção aos bastidores, sentiu a mudança na temperatura, um frio ainda mais intenso que a noite do lado de fora. Lá, pendurado em uma arara enferrujada, um sobretudo que parecia recente. No bolso, um bilhete: "O silêncio é o que mais revela."

Na saída, parou na porta e olhou para trás. A cidade, silenciosa e indiferente, permanecia adormecida. Mas Hélvio sabia: naquela madrugada, alguém também permanecia acordado, observando de algum lugar.

E o mistério, como sempre, só estava começando.


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