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Conto 29/05/2025

O Pão Dividido: Quando a Fome se Transforma em Partilha

O Pão Dividido: Quando a Fome se Transforma em Partilha

O sol ainda mal havia se debruçado sobre os telhados de Santa Aurora quando Dona Quitéria Barento retirou do forno o último pão que conseguira preparar com o resto de farinha. A seca castigava a terra há meses, e os mantimentos começavam a rarear até para os mais prevenidos.

Na cozinha, seus olhos cansados se voltaram para a mesa. Anselmo preparava o café fraco, Luzia desenhava com carvão em um pedaço de papel pardo. Tudo parecia normal, mas o coração de Dona Quitéria sabia: os vizinhos, Zeca e Bina, estavam sem comida.

Ela dividiu o pão em quatro partes. Uma para cada membro da família. Mas, ao olhar para Luzia, lembrou das lições que sempre ensinou: "O pouco repartido nunca falta." Cortou um pedaço generoso, embrulhou em um guardanapo e pediu à neta: "Leve esse pão, minha flor, e diga que é com carinho."

Luzia bateu à porta dos velhinhos, que a receberam com olhos marejados. "Foi Deus que mandou você, menina!" disse Bina, apertando a fatia com gratidão.

O gesto ecoou. No dia seguinte, Seu Clóvis apareceu com leite de cabra para a família Barento. Dali, surgiu uma rede de solidariedade. Quem tinha mandioca trocava com quem tinha ovos. Quem colhia lenha, dividia. E o forno da Dona Quitéria voltou a assar pães, agora com farinha que chegava pelas mãos amigas da comunidade.

No domingo, organizaram a primeira "Mesa da Partilha", uma longa mesa debaixo do pé de tamarindo onde todos comiam juntos, sorrindo como se a seca nunca tivesse existido.

Dona Quitéria olhou para o céu e murmurou baixinho: "Deus não manda chuva todos os dias..., mas manda gente boa para alimentar a alma."


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