• google plus bahia em tempo real
  • facebook bahia em tempo real
  • twitter bahia em tempo real
  • youtube bahia em tempo real
Conto 30/05/2025

O Muro da Esperança: Quando Pedras Erguem Vidas

O Muro da Esperança: Quando Pedras Erguem Vidas

Naquela manhã cinzenta, as nuvens pesadas não trouxeram só a chuva, mas também o medo. A enxurrada da noite anterior tinha arrancado parte do muro da casa de Dona Adélia, uma senhora de 82 anos que vivia sozinha no alto do morro, em Santa Aurora.

João Barento, ao ouvir o barulho das pedras rolando na madrugada, correu até lá com Seu Anselmo. Encontraram a casa vulnerável, com as paredes expostas à possibilidade de deslizamento. Dona Adélia, encolhida num canto, chorava de desespero, agarrada ao retrato antigo do falecido esposo.

"Não se preocupe, Dona Adélia. A senhora não está sozinha," disse João, com a firmeza serena que herdara do pai. Sem esperar por ajuda oficial ou recursos que nunca chegavam ao vilarejo, voltou correndo para casa, pegou suas ferramentas e algumas tábuas que guardava para reformar o galinheiro.

Durante cinco dias, sob sol ou sob chuva, João e Seu Anselmo trabalharam sem descanso. Cortavam troncos, empilhavam pedras e reforçavam a estrutura com barro e cimento improvisado. Dona Quitéria levava marmitas com comida quentinha e chá para aquecer o corpo e o coração.

Ao final da obra, ergueram não só um muro sólido, mas um símbolo: esperança e segurança para quem mais precisava.

No último dia, Dona Adélia preparou um café forte, com bolo de milho, e serviu aos Barento com lágrimas nos olhos. "Vocês não levantaram só um muro. Levantaram minha vida, minha coragem."

A história rapidamente se espalhou por Santa Aurora. Inspiradas pelo exemplo, outras famílias começaram a se oferecer para pequenas reformas nas casas dos mais vulneráveis. Nascia ali o "Mutirão da Esperança", um grupo informal que até hoje mantém viva a cultura de ajuda mútua.

João olhou para o muro, alisou a última pedra assentada e pensou, sem dizer nada: "Quando a gente constrói para o outro, também fortalece o que há de melhor dentro da gente."

E naquele vilarejo escondido entre serras e riachos, um simples muro se transformou num monumento de amor ao próximo.


Bahia Tempo Real no ar