Luzia Barento era só uma menina de 8 anos, mas seu coração já pulsava com a força dos grandes. Sempre observadora, notou que, todas as tardes, o senhor Nicolau, um homem de cabelos muito brancos e olhar distante, sentava-se no mesmo banco, em frente à igreja de Santa Aurora, fitando o horizonte, sem nunca sorrir.
Certa vez, perguntou à avó: "Vó, por que o senhor Nicolau está sempre sozinho?"
Dona Quitéria respondeu com doçura: "Ele perdeu quem mais amava, minha flor. Agora vive de lembranças."
Luzia, com aquela sensibilidade que parecia já nascer com os Barento, teve uma ideia. Pegou folhas de caderno, lápis de cor e começou a escrever pequenas cartas: frases simples, cheias de carinho, e desenhos de flores, passarinhos e estrelas.
Na manhã seguinte, com o coração acelerado, colocou a primeira carta embaixo do chapéu que Nicolau deixava sobre o banco. Observou de longe, escondida atrás do pé de ipê, enquanto ele encontrava o bilhete e, com um sorriso leve, guardava-o no bolso do paletó.
Todos os dias, Luzia deixava uma nova mensagem: "O mundo ainda é bonito", "As flores nascem de novo", "O senhor é importante". E Nicolau, dia após dia, passou a chegar mais cedo, sentar-se mais ereto, e olhar não mais o horizonte vazio, mas as pessoas ao redor.
Até que, numa manhã de domingo, o sino da igreja tocava e, quando Luzia se aproximou para deixar outra carta, encontrou um envelope azul no mesmo banco. Era do senhor Nicolau.
"Querida Luzia, suas palavras foram o sol nos meus dias nublados. Obrigado por me lembrar que ainda existe ternura no mundo."
Luzia correu para casa, emocionada, e mostrou a carta para toda a família Barento, que a abraçou com orgulho e alegria.
A história das cartas logo se espalhou por Santa Aurora. Inspiradas pela menina, outras crianças começaram a escrever bilhetes e mensagens para os idosos do vilarejo. Criaram até uma caixinha no coreto da praça: "Palavras que abraçam."
Desde então, ninguém mais se sentou sozinho nos bancos da praça.
E Luzia aprendeu que, às vezes, um pedaço de papel pode ser o remédio mais poderoso: aquele que cura a solidão.