Miguel sentou-se no banco duro da sala de espera do hospital, com as mãos trêmulas segurando a ficha. Aos 70 anos, a vida o havia tirado quase tudo: os amigos, os irmãos, a vitalidade. Mas uma dor no peito e a insistência da filha o fizeram buscar ajuda. O que não esperava era reencontrar, ali, o amor da juventude.

Helena, sentada do outro lado da sala, mantinha os olhos fixos no chão. Quando levantou o olhar e viu Miguel, um arrepio correu-lhe a espinha. Quarenta anos se passaram desde a última vez. Quarenta anos desde a decisão difícil a de partir, para proteger os dois de um escândalo que, naquela época, poderia destruir reputações.

O silêncio entre eles foi interrompido pelo chamado de um enfermeiro. Miguel entrou. Na saída, Helena estava de pé, o rosto banhado por lágrimas. "Ainda é você, não é?", ela disse. Ele sorriu com os olhos cansados, mas vivos. "Sempre fui."

Conversaram como quem recupera um tempo roubado. Helena revelou que também estava ali por exames, sozinha, após a perda do marido. Miguel contou da solidão e do vazio que sentia desde que a deixara partir.

No fim da tarde, caminharam juntos até a cafeteria do hospital. Tomaram um café, riram como antes. Ela lhe entregou um envelope uma carta que nunca teve coragem de enviar. Ao ler, Miguel viu que o amor dela nunca partira.

Na despedida, trocaram os números de telefone. Mas antes de ir, Miguel segurou a mão dela e disse: "Talvez o tempo tenha nos separado, mas o destino ainda acredita na gente."