O ano havia sido generoso com a roça de Seu Anselmo Barento. A chuva viera na medida certa, o milho engrossara bonito e a mandioca parecia mais gorda do que nunca. Enquanto colhia ao lado de João, seu filho, Anselmo olhou para os cestos cheios e disse: "É tempo de partilhar."

E foi assim que nasceu a ideia da primeira Festa da Colheita de Santa Aurora.

Com o apoio de toda a família Barento, espalharam convites de boca em boca, chamando todos os vizinhos para uma grande celebração, sem distinção de quem tinha muito ou pouco.

Em poucos dias, a pracinha da igreja foi enfeitada com bandeirolas coloridas e mesas improvisadas com tábuas e cavaletes. Dona Quitéria preparou pamonha, bolo de milho e canjica; Maria organizou as crianças para uma apresentação de dança; João e Seu Anselmo montaram um coreto para os músicos locais.

Mas o mais bonito de tudo foi a distribuição das cestas. A família Barento separou parte significativa da colheita abóboras, feijões, milho, aipim e montou pacotes para doar às famílias que mais precisavam.

No dia da festa, o cheiro de comida boa misturava-se ao som do sanfoneiro tocando forró, enquanto as crianças corriam entre as mesas e os adultos dançavam, riam e partilhavam histórias.

No fim da tarde, antes do pôr do sol, Seu Anselmo subiu no coreto e, emocionado, disse: "O que colhemos com trabalho, dividimos com amor. A fartura não está no que se guarda, mas no que se reparte."

Aquela festa se tornou, desde então, uma tradição anual em Santa Aurora, um dia em que ninguém fica sem comida, sem companhia ou sem alegria.

A família Barento, ao olhar a praça cheia e feliz, sabia que havia cultivado muito mais do que alimentos: haviam semeado união, gratidão e esperança.

E assim, com cada novo ciclo da colheita, o vilarejo inteiro se lembrava: a terra dá frutos, mas o coração é quem os multiplica.