A porta voltou a se fechar com um estrondo abafado, como se o próprio prédio tentasse conter os segredos de volta. Hélvio, com os olhos fixos na parede de fotografias antigas, sentiu um calafrio percorrer a espinha. Agenor, vinte ou trinta anos mais jovem, aparecia ao lado de homens que pareciam ter grande influência políticos, empresários, militares. Alguns ainda vivos. Outros, oficialmente, nem sequer registrados na cidade.

Hélvio puxou um dos arquivos sobre a mesa, uma pasta de couro marcada com as iniciais "S.G.C.". Dentro, documentos sigilosos, recortes de jornal censurados, listas de nomes. Entre eles, Samuelo Gadelhau atual secretário de segurança da cidade. O nome, porém, estava parcialmente riscado com tinta vermelha. E ao lado dele, um número: 17.

Vinte e sete nomes. Dezessete riscados. murmurou Hélvio.

E os outros dez? perguntou Marcos, que ainda observava as fotos, claramente abalado.

Talvez ainda estejam vivos. Ou ainda tenham algo a esconder.

De volta ao seu escritório improvisado no centro, Hélvio cruzou os dados com registros públicos. Para seu espanto, Samuelo Gadelhau havia sido removido do site oficial da Prefeitura naquela mesma manhã. Como se nunca tivesse existido.

Hélvio sabia que tocara numa ferida ainda aberta. E o sumiço de Agenor agora fazia mais sentido: ele não fugira... estava sendo silenciado.

Naquela noite, uma carta sem remetente foi empurrada por baixo da porta de seu escritório. Sem nome, sem selo. Apenas uma frase em letras maiúsculas:

"NEM TODAS AS PORTAS DEVEM SER ABERTAS."