O relógio marcava 2h42 da madrugada quando Hélvio estacionou em frente ao antigo prédio do jornal A Verdade Popular, fechado desde 1996. Segundo uma anotação encontrada no arquivo de Samuelo Gadelhau Costa, aquele era o Ponto 17 um dos locais marcados na lista com os nomes riscados.
O prédio abandonado exalava poeira e mofo. Vidros quebrados, móveis cobertos por lençóis, e um silêncio denso, cortado apenas pelos passos de Hélvio. A chave a mesma entregue por Agenor encaixava perfeitamente na porta lateral de ferro. Como se tudo estivesse esperando por ele.
Dentro, o cenário era estranho. Um único cômodo intacto, como se estivesse conservado por décadas: arquivos organizados, pastas etiquetadas e uma cadeira giratória voltada para a parede. Na parede, um mapa da cidade com 26 alfinetes vermelhos. E um azul. Apenas um.
No centro da mesa, um gravador antigo com uma fita marcada como "Testemunho 17". Hélvio pressionou o play.
A voz era fraca, arrastada:
"Se você está ouvindo isso significa que não desistiu. Eu sou o número 17. E não fui o primeiro. Eles queriam apagar tudo. E começaram por nós. Mas não conseguiram apagar a verdade. Ela está guardada. No fim do trilho "
O som se perdeu em ruído.
O coração de Hélvio batia forte. O fim do trilho só podia ser uma referência à antiga estação de trem desativada na periferia. Mas quem eram eles? E o que significava aquele único alfinete azul?
Antes que pudesse pensar mais, algo do lado de fora estalou.
Ele não estava mais sozinho.