Lara Vieira caminha pelas ruas de Alfama com passos firmes, mas o coração em desordem. Desde que descobriu que o nome de seu pai poderia estar ligado às misteriosas cartas encontradas por Helvio, o passado que sua família mantinha selado em silêncio começa a ruir como as paredes do sobrado que revelou os documentos.
Enquanto isso, Helvio Brasão se isola em seu escritório no Chiado, mergulhado nas palavras cifradas de "M." e "L.". Usando uma técnica desenvolvida por espiões na Segunda Guerra, ele percebe que as cartas escondem mais do que datas e sentimentos: tratam-se de instruções, roteiros e possíveis encontros secretos. Um dos trechos sugere que algo crucial foi escondido em uma antiga biblioteca em ruínas em Palmela um vilarejo bucólico ao sul de Lisboa.
Naquela noite, Helvio nota algo pela janela. Do outro lado da rua, uma mulher observa seu prédio da varanda de um edifício antigo. Ela usa um lenço vermelho na cabeça e mantém um binóculo preso ao peito. Ele finge não notar, mas fotografa discretamente a cena com o celular. Mais tarde, ampliando a imagem, reconhece o rosto: Teresa Damásio, professora aposentada de literatura, cujo nome aparece numa das cartas como "a que leva os poemas ao mar".
Intrigado, Helvio a procura no dia seguinte. Teresa o recebe com gentileza desconcertante, oferecendo chá de camomila e silêncio. Após longos minutos, quebra o gelo:
Se está aqui por causa das cartas já passou da hora de descobrir a verdade. Mas a verdade não redime ninguém, senhor Brasão. Apenas desenterra ossos.
Com a voz embargada, ela revela: as cartas não eram apenas uma troca entre dois amantes em tempos perigosos. Elas codificavam rotas de fuga para dissidentes políticos perseguidos. Joaquim Vieira pai de Lara e uma mulher conhecida apenas como "M.", ajudavam a esconder artistas, jornalistas e opositores do regime, usando as cartas para despistar a polícia política. Mas uma das missões falhou. Alguém os traiu.
Antes de Helvio ir embora, Teresa lhe entrega um envelope. "Não abra agora. Espere pela primeira neblina de Azenhas do Mar. Lá você entenderá tudo."
Na saída, Helvio olha para trás. Teresa permanece na varanda, imóvel, com os olhos fixos nele como se observasse uma peça em um tabuleiro que ela mesma ajudou a montar.
No mesmo instante, Lara recebe uma ligação anônima. Uma voz grave sussurra:
Não continue com essa investigação, senhora Vieira. Seu pai não é o herói que imagina.
A dúvida se instala, o medo cresce. E o mistério apenas começa.
"Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."