A manhã nasce fria sobre Lisboa. O céu acinzentado cobre a cidade com a mesma densidade das dúvidas que pairam sobre Helvio Brasão e Lara Vieira. De volta à capital, eles se dirigem à colina de Alfama, onde a estátua de São Vicente observa o Tejo com majestade silenciosa.
Com base na carta de M., Helvio suspeita que a chave da caixa metálica encontrada em Azenhas do Mar esteja escondida ali, entre pedras antigas e degraus de história. Fingindo ser apenas turistas, os dois observam o monumento. Helvio procura discretamente por sinais de intervenção pequenas marcas, símbolos entalhados, qualquer coisa fora do lugar.
Lara, que cresceu ouvindo histórias sobre o pai e os tempos sombrios da ditadura, não consegue disfarçar a tensão.
E se não for só uma chave? ela pergunta. E se for a senha para reviver algo que devia permanecer morto?
Helvio não responde. Seus olhos se fixam numa fissura entre os blocos de mármore que sustentam a base da estátua. Ele se ajoelha, saca uma ferramenta fina de dentro da mochila e força a abertura. Algo metálico cai. É uma pequena chave dourada, envolta em um papel já quase desintegrado.
No bilhete, uma frase que os arrepia:
A verdade dói menos que a omissão, mas sangra mais.
Enquanto isso, alguém os observa de um dos prédios ao lado. Uma mulher com cabelos brancos curtos, usando luvas de couro. Ela sussurra para si:
Ainda sabem procurar como a geração anterior.
Com a chave em mãos, Helvio e Lara voltam para a universidade. No laboratório, abrem a caixa metálica sob olhar atento de uma professora de paleografia. Dentro, eles encontram filmes fotográficos, documentos de identidade falsos, e um diário escrito por MD
O diário revela detalhes de missões realizadas para esconder ativistas. E expõe a verdade mais cruel: Joaquim Vieira, pai de Lara, realmente traiu M. Ele entregou a localização de um refúgio em troca da própria liberdade e de proteção para sua filha recém-nascida a própria Lara.
O impacto é devastador.
Lara, atônita, lê as palavras de sua mãe biológica M. confessando que entregou a filha a Joaquim antes de fugir, acreditando que ele a manteria segura, mesmo após a traição. A mulher que Lara sempre acreditou ser sua mãe era, na verdade, apenas a esposa de Joaquim cúmplice no segredo.
Helvio tenta confortá-la, mas Lara se fecha. O mundo que conhecia não existe mais. Ela se levanta e sai sem dizer uma palavra.
No final do capítulo, a misteriosa mulher de cabelos brancos entra na sala onde estivera a caixa. Ela observa os documentos e sorri.
Eles abriram a caixa. Agora o jogo recomeça.
"Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."