As manifestações culturais voltam a ocupar o Teatro Gregório de Mattos, no Centro, que foi entregue completamente recuperado na noite de ontem (11) pela Prefeitura, em parceria com o Itau Unibanco S.A. A partir de hoje (12), entra em cartaz a exposição "Amar a Lina", que pode ser visitada gratuitamente de quarta a domingo, das 14h às 19h, na Galeria da Cidade, andar térreo. Já no sábado e domingo (13 e 14) acontece o musical "Eu te amo mesmo assim", a ser estrelado pelos atores Laila Garin e Osvaldo Mil na Sala Tabaris, com ingressos a R$30 (inteira). acmteatro01
A reinauguração do teatro contou com uma performance do ator Jackson Costa que, caracterizado como o poeta baiano do século XVII que dá nome ao espaço, convidou a todos os presentes para conhecer a "nova casa". O prefeito ACM Neto, o diretor de Relações Institucionais e Governo do Itau Unibanco, Cícero Araújo, o secretário de Cultura e Turismo, Érico Mendonça e o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, ficaram responsáveis por cortar a fita de reabertura do equipamento cultural.
Para o prefeito, é inacreditável o Gregório de Mattos ter ficado fechado por tanto tempo, devido à forte característica cultural de Salvador. "Nossa cidade vive e respira cultura e precisava ter resgatado esse espaço tão importante, onde agora vão se apresentar diversas manifestações locais, nacionais e internacionais. É importante ressaltar que, além do teatro, todo um complexo está sendo entregue à cidade no local, como a praça e escadarias recuperadas, além do Espaço da Barroquinha que também foi requalificado e entregue no ano passado. Outra importante ação em parceria com o Itau vai permitir que sejam exibidos filmes na área externa gratuitamente, uma vez por semana. É realmente um dia muito especial para a primeira capital do Brasil", salientou ACM Neto.
Para Cícero Araújo, do Itau Unibanco, a característica cultural de Salvador têm contribuído para as diversas ações realizadas pela instituição na cidade. "Desenvolvemos diversas ações pelo país a exemplo do programa de compartilhamento de bicicletas, mas a capital baiana inspira bastante a gente a promover iniciativas que valorizem a cultura e a preservação da história. Estamos realmente felizes com o resultado de mais essa parceria com a Prefeitura."
O presidente da FGM, Fernando Guerreiro, salientou que a população está recebendo de volta o teatro com o projeto original de Lina Bo Bardi, que é homenageada com a exposição no local, e não esconde o entusiasmo ao relembrar a relação com o equipamento cultural. "Foi aqui que comecei minha carreira na década de 1970 e, quando cheguei na fundação, disse que tinha que colocar o teatro para funcionar novamente. E, ainda por cima, é o único teatro multidão daqui, então vai dar pra fazer muita coisa", projetou.
Outro que também ficou bastante extasiado com o retorno do TGM foi o ator Dodi Só. "Meu sentimento é de ator e cidadão, pois este teatro é mais um equipamento que vai trazer a comunidade para ver bons espetáculos, com o clima de Lina Bo Bardi. A cidade estava precisando disso e só tem a ganhar, pois tem sofrido há alguns anos com o abandono cultural. Espero que outros espaços que estão fechados também possam retornar. Estou muito feliz com essa iniciativa", pontuou.
Equipamentos - Esse é o terceiro equipamento cultural revitalizado pela atual gestão municipal, gerenciado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), e contou com investimentos da ordem de R$ 2 milhões, sendo metade de recursos públicos e outra metade privados. Ele ocupa o grupo de espaços culturais entregues à população pelo empenho do poder público, que já revitalizou o Espaço Cultural da Barroquinha e a Casa do Benin. Isso sem contar na Casa do Rio Vermelho – Jorge Amado e Zélia Gattai, que já é um sucesso de público, com mais de seis mil visitantes em cerca de oito meses aberta ao público como memorial, após intervenção da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
Com projeto arquitetônico idealizado por Lina Bo Bardi, a reforma conservou as características originais do teatro, que tem formato alternativo e está apto a receber propostas de diversas linguagens artísticas, como teatro, música, dança, literatura e artes visuais. Por isso, tem arquitetura alternativa, que permite várias disposições da plateia, podendo receber até 400 pessoas. A parceria com o Itaú Unibanco S.A., por meio do Programa de Adoção de Equipamentos Culturais e Turísticos, viabilizou intervenções, como novas instalações elétricas, de incêndio e para-raios; equipamentos de som, iluminação cênica e expositiva do teatro; reestruturação da ladeira da Barroquinha, com escada de granito e calçada de pedras portuguesas.
Estrutura – O Teatro Gregório de Mattos é composto por dois pavimentos, cada um com um espaço interno. No térreo está a Galeria da Cidade, que contém 400 m² de área utilizável e poderá receber exposições, intervenções artísticas e instalações. Uma “escada-escultura” liga térreo ao andar superior, onde acontecem os espetáculos. Assim como em outros espaços projetados por Lina Bo Bardi, a escada tem fundamental importância para o conceito do equipamento. Apresenta degraus que se assemelham a um papelão dobrado e está apoiada em um pilar acoplado a mãos francesas.
No segundo pavimento, está a Sala de Espetáculos Tabaris. Com uma arquitetura alternativa, o espaço é múltiplo, propício para receber espetáculos inovadores. Sua plateia é adaptável a diferentes propostas, visto que não tem uma disposição fixa, podendo ser montada de acordo com cada atividade. A sala conta também com um bar, que poderá ser aberto ao público durante os eventos. As instalações foram adaptadas para receber pessoas com deficiência física. Entre as ações, destacam-se a construção de rampas de acesso desde a escada da Barroquinha até a entrada do espaço, que conta com elevador e sanitários específicos para esse público.
Histórico – A história do Teatro Gregório de Mattos começa na metade do século XX, quando o Centro de Salvador era o local mais glamoroso da cidade, frequentado pela elite da capital e interior e reunia hotéis, cassinos, cinemas, lojas, bares e cafeterias. Na Rua Chile concentrava-se grande parte deles, como o Cine Guarani, o Bar Cacique e a mais famosa casa noturna da cidade, o Tabaris, símbolo da época áurea da região. Ativo entre as décadas de 30 e 60, o Tabaris passou por várias fases; já abrigou um cassino, recebeu shows de orquestras de ponta, apresentações de balés e teatro de revista com direito a vedetes nacionais e internacionais, performances de estrelas da era do rádio e shows de strip-tease.
No entanto, na década de 1960, a casa entrou em declínio. Depois do fechamento do Tabaris, o imóvel transformou-se em Teatro Arena, utilizado apenas para shows folclóricos voltados para turistas. Em abril de 1979, com o apoio da Funarte, o local foi transformado em convencional e passou a se chamar Teatro Gregório de Mattos, abrigando espetáculos voltados para a população. Desde a sua criação, o teatro já assumiu a identidade de um equipamento com programação de natureza inovadora e irreverente, assim como o poeta que lhe deu nome.
Entretanto, outra característica vem marcando a trajetória do espaço, que são problemas em sua estrutura e interrupções no seu funcionamento. Além disso, ao longo de sua história, o espaço já abrigou academia de ginástica, a sede do Departamento de Esportes e Animação Urbano e da Divisão de Cultura e Arte (1984), bem como a estrutura administrativa da Fundação Gregório de Mattos (1988). Além disso, já foi requerido para ser a sede da Federação Baiana de Teatro Amador (1984) e até já correu o risco de se tornar pinacoteca (2009).
Em 1986, quando o teatro já tinha quatro anos interditado, a arquiteta Lina Bo Bardi capitaneou o projeto de restauração do espaço. Tratava-se do Projeto Barroquinha, integrante do Programa de Revitalização do Centro Histórico, que buscava revitalizar o complexo cultural que compreendia o Cine Glauber Rocha, o Bar-Cine Cacique, o Teatro Gregório de Mattos, a Igreja Nossa Senhora da Barroquinha e o entorno. A área foi entregue à população dois anos depois, com exceção da igreja da Barroquinha, e recebeu o nome de Espaço Glauber Rocha. Em 1994, o teatro foi fechado novamente e, somente em 1997 voltou a funcionar. O espaço permaneceu ativo até março de 2008, quando foi novamente fechado.