O dramaturgo que participou da invenção do teatro brasileiro moderno, levando para o palco a linguagem das ruas, nasceu em Pernambuco, 1912. Acontecimentos da vida política marcaram a vida de Nelson Rodrigues. Seu pai, o jornalista Mario Rodrigues, tornou-se alvo de disputa entre dois grupos políticos poderosos. A família perdeu a vida confortável e migrou para o Rio de Janeiro. Muitos anos depois, já entrando na velhice, Nelson Rodrigues viveu a dor de ter um dos seus filhos preso e torturado pela ditadura militar. Nenhum sofrimento enfraqueceu o espírito de Nelson Rodrigues, que, desde menino, foi um insurreto.
Polêmico, ele enfrentou preconceitos falando daquilo que a hipocrisia recomenda calar, conquistou o respeito dos artistas e o aplauso do público, tornando-se, depois de sua morte, o dramaturgo brasileiro mais representado e, segundo o estudioso Sábato Magaldi, o “clássico da nossa literatura teatral moderna”.
Com o aprendizado da leitura, em uma escola do subúrbio carioca de Aldeia Campista (atual Andaraí), descobriu dois universos diferentes que o fascinaram: o Tico-tico, primeira revista brasileira feita para crianças, e os folhetins publicados diariamente nos jornais, com histórias de adultério, traição, amores trágicos, vingança e morte. Ruy Castro, em O anjo pornográfico, biografia de Nelson Rodrigues, revela que, aos 8 anos, ele venceu concurso de redação em sala de aula, com uma escrita de tanta qualidade, que deixou boquiaberta a professora. Mas Nelson não pode ler a redação em voz alta porque o tema tratado - adultério feminino, vingado com a morte - foi considerado impróprio. Ser considerado impróprio seria uma constante em toda sua vida.
Estreou como teatrólogo, em 1941, com a A mulher sem pecado, mas seu primeiro grande sucesso foi Vestido de noiva, encenada em 1943, pelo diretor polonês Ziembienski, com cenários de Santa Rosa. Na estréia, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, terminado o espetáculo, o público permaneceu em um silêncio que pareceu interminável, seguido de verdadeira ovação. Seguiram-se Álbum de família, Anjo negro, Senhora dos Afogados, e, entre outros grandes sucessos, muitas delas transformadas em filmes e séries de televisão,destacam-se na obra de Nelson Rodrigues, morto em 1980, as peças Boca de ouro, Beijo no asfalto, Otto Lara Resende ou Bonitinha mas ordinária, Os 7 gatinhos e Toda nudez será castigada. Na cena rodrigueana, apesar das fortes tintas realistas, “diálogos se alternam, conforme a necessidade, da frase asséptica, até incompleta, à elaboração poética, desvinculada deliberadamente do cotidiano”, escreve Sábato Magaldi, em Moderna dramaturgia brasileira.
Nelson Rodrigues (1912-1980)
Fonte: http://www.brasil.gov.br
Livro 100 Brasileiros (2004)