Nasceu no Rio de Janeiro, em 1898, e, ainda menino, como prêmio ao seu bom desempenho na escola, foi levado ao teatro. “Nesse dia, decidiu-se o meu destino”, escreveu o ator em Procópio Ferreira por Procópio Ferreira, contando que, dali em diante, tudo o que fazia era pensando em ir ao teatro.
Filho de pai muito severo, matriculou-se às escondidas na Escola de Arte Dramática e passava as noites lendo autores do teatro grego, escondendo os livros debaixo do colchão. Foi denunciado por uma fotografia publicada em jornal, na primeira fila da classe, feliz da vida.
Expulso de casa pelo pai, a mãe o aconselhou a seguir seu caminho e prometeu garantir as despesas. Viveu o episódio como uma libertação, instalou-se numa pensão no centro da cidade e, à noite, comemorou indo ao teatro. À saída, demorou-se e tentou encontrar a atriz, Lucília Peres, cuja beleza o encantara, não viu a atriz e sim o ator Leopoldo Fróes que, no espetáculo, usava roupas elegantes, mas apareceu vestindo calças remendadas. Decepcionado, logo esqueceu o que vira e continuou toda noite indo ao teatro, até que o dinheiro acabou e não chegou a prometida ajuda materna.
Conseguiu emprego como contínuo, com a obrigação de varrer a sala, limpar o banheiro e a felicidade de ter um patrão casado com uma ex-atriz, com boas relações no mundo teatral. Terminado o curso com distinção, o patrão o indicou a um diretor e ele estreou, largando o emprego por um salário menor. Na estréia, fazendo uma ponta no papel de um mensageiro, entrou em cena pelo lado errado, direto no quarto de dormir da personagem feminina, mas o fiasco não o abalou a ponto de pensar em desistir.
Apesar das enormes dificuldades iniciais, foi recompensado com os aplausos do público ao longo da carreira de 50 anos, em que representou um enorme repertório, que vai dos clássicos gregos a Molière, passando pelos teatros alemão e espanhol e por um grande número de versões dos sucessos do teatro argentino da época.
Destaque do repertório de Procópio, que morreu em 1979, foi a parceria que estabeleceu com o escritor Joracy Camargo, de quem interpretou, entre inúmeras outras peças, Deus lhe pague e Maria Cachucha, representadas em palcos das capitais brasileiras e do interior, em temporadas que, muitas vezes, se transformavam em verdadeiras aventuras.
Lutou pela construção de teatros e pela profissionalização do trabalho do ator, foi amplamente reconhecido, com inúmeras condecorações, e é pai da atriz e diretora Bibi Ferreira. Persistente, realizou o sonho da infância: ganhar a vida como homem de teatro. Sua conquista foi também uma vitória do teatro brasileiro.
Fonte: http://www.brasil.gov.br
Livro 100 Brasileiros (2004)