Projetos buscam reduzir perdas de hortaliças e frutas motivadas por falhas na infraestrutura e manuseio inadequado dos produtos
No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), dedica parte de suas ações na busca de soluções tecnológicas que diminuam os impactos ambientais causados pelo desperdício. Além disso, promove campanhas de acesso à informação, tanto à população em geral como aos produtores.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Hortaliças, Milza Moreira Lana, os projetos elaborados visam melhorar e diminuir os efeitos negativos de cada etapa da cadeia produtiva, passando pela produção, manuseio, processamento, mercado, distribuição até chegar à mesa do consumidor.
“Atualmente nós temos um projeto voltado aos pequenos agricultores de hortaliças, no sentido de melhorar o manuseio durante a colheita. É preciso que o produto sofra menos, seja protegido de condições adversas e seja menos machucado”, ressalta.
Segundo relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de um bilhão de toneladas de alimentos produzidos no mundo são desperdiçados a cada ano. No caso de hortaliças e frutas, o problema é motivado pela falta de infraestrutura e manuseio adequado ao longo da cadeia produtiva.
Neste contexto, a proposta sugerida pela Embrapa Hortaliças é construir em cada propriedade do pequeno agricultor uma estrutura simples – de ferro e lona – que modificasse o manuseio e armazenamento do produto.
“A ideia é montar uma ‘casa de embalagens rudimentar’ para que a hortaliça removida do solo seja imediatamente levada para sombra após a colheita. Além disso, nós pensamos que o produtor poderia utilizar uma peça de madeira inclinada, semelhante a um cavalete, que conseguisse escoar o produto selecionado”, afirma. Confira neste link o passo a passo completo.
Outra opção nesse processo, destaca a pesquisadora, é utilizar um carrinho que transporte o produto até a casa de embalagens. “Com o manuseio mínimo, o produto será menos machucado, sofrerá menos com as condições ambientais e de antemão, os produtores terão melhores condições de trabalho.
Embora a estrutura seja simples, o maior desafio é transformar a mentalidade do produtor. “Precisamos implantar uma nova cultura de como tratar o produto”, conta Milza Moreira Lana.
A tecnologia inserida em 13 propriedades agora está em processo de validação. “É uma tecnologia que a Embrapa não vai comercializar porque é algo muito fácil de ser feito. Nós teremos no site da empresa uma seção que ajudará o produtor a construir a estrutura e os benefícios que ela poderá trazer tanto para o trabalhador como para o produto”, completa.
A intenção é, além de expandir o projeto, tentar dialogar e conscientizar os demais atores da cadeia produtiva. “É preciso que o mercado consumidor compre a ideia, porque se o produtor melhora o manuseio na colheita, o grande beneficiário vai ser o mercado. Resultado: o produto vai durar mais na gôndola e o consumidor vai receber um produto de mais qualidade.”
Além disso, outro projeto visa conscientizar o perfil de consumidor que contribui com o aumento do desperdício. “Estamos nos referindo ao consumidor que escolhe o produto com o dedo, que não sabe conservá-lo e que às vezes compra uma fruta com defeito e joga no lixo”, ressalta, adicionando que a ação será desenvolvida em parceria com professores da educação básica, nutricionistas e população em geral.
Dados
De acordo com o artigo 'Desperdício de alimentos no Brasil: um desafio político e social a ser vencido', de autoria do pesquisador da Embrapa, Antônio Gomes Soares, entre 1997 e 2000, a produção dos principais frutos frescos comercializados no Brasil era de aproximadamente 17,7 milhões de toneladas/ano. Desse total, a perda estava calculada em 30%.
Em relação a hortaliças, a produção era de aproximadamente 16,0 milhões de toneladas. O índice de perdas destes produtos situava-se em 35%. Dessa forma, cerca de 5,6 milhões de toneladas/ano de produto eram desperdiçados.
Segundo o pesquisador, aumentar a produção agrícola sem reduzir as perdas, não é uma das soluções. “Se produzimos 1.000 toneladas e as perdas são de 30%, jogamos fora 300 toneladas. Caso dobremos a produção para 2000 toneladas e continuarmos com o mesmo índice o valor também dobrará para 600 toneladas. Desta forma, o correto é diminuir as perdas primeiro para depois pensar em aumentar a capacidade de produção”, reforça.
Todo esse montante de produtos desperdiçados, além de desequilibrar a cadeia produtiva, impactam na qualidade do produto que chega à do consumidor. Os dados constatam que as principais perdas de frutas e hortaliças estão concentradas nos níveis de manuseio e transporte (com 50%) e comercialização (com 30%). Os desperdícios no campo e de consumo somam 20%.
Causas do desperdício
Embora as estatísticas mais recentes em termos de desperdício para frutas e hortaliças sejam do ano 2000, a pesquisadora Milza Moreira garante que a deficiência se enquadra exatamente durante a produção, comprovando os dados citados anteriormente.
“Nós não temos uma cadeia de frios instaladas no País, o que contribui para que o produto estrague mais facilmente. Além disso, as estruturas de comercialização fazem com que esse produto demore para chegar até o consumidor final”, afirma.
O maior problema, segundo ela, é que gastamos insumos raros de alto valor financeiro como a água e o adubo. A grande questão é que produzimos alimentos que não são consumidos pela população.
Novas pesquisas e soluções
Diminuir as taxas de desperdício não é tarefa fácil. A solução é complexa e incide justamente em uma ação integrada com todos os atores da cadeia produtiva. Em outras palavras, é preciso uma cooperação conjunta tanto do produtor como do consumidor. Os projetos desenvolvidos pela Embrapa a nível local auxiliam em direção a uma mudança desse cenário.
O desafio, no entanto, parte principalmente de pesquisas que são elaboradas pelo hemisfério norte e devem ser adaptadas para a realidade brasileira. “O desafio é como eu transporto esse conhecimento para a condição local”, afirma a pesquisadora.
Para o pesquisador Antônio Gomes não há uma resposta para o problema. Segundo ele, existe uma série de procedimentos que se adotados podem contribuir para redução dessas taxas de perdas, tais como: melhoria nos tratamentos da pré e pós-colheita dos frutos e das hortaliças; padronização das dimensões da embalagem; melhoria nos meios de transporte; melhor integração entre varejistas, atacadistas e produtores, entre outros.
A mudança logística, segundo Antônio Gomes, agiliza informações sobre a qualidade do produto e permite intervenções de ajuste mais rápidas e precisas.
Diminuindo o desperdício de frutas e hortaliças os impactos a curto prazo para o País seriam enormes. “Podemos citar melhor remuneração ao produtor rural, maior oferta de alimentos, diminuição de custos operacionais, maior disponibilização de alimentos saudáveis ao consumidor, maior estabilização de preços ao consumidor, diminuição do lixo jogado no meio ambiente”, elenca o pesquisador.
Confira abaixo tabela com algumas das causas do desperdício e sugestões de redução de perdas:
Fonte: http://www.brasil.gov.br/