O Som do Relógio
O velho relógio de bolso repousava sobre a mesa como um fragmento do tempo esquecido. O detetive Henrique Vasconcelos observava o objeto com olhos cansados, sentindo o peso das horas não apenas no mostrador, mas em sua própria vida. O relógio havia sido encontrado em uma cena de desaparecimento. Um detalhe aparentemente banal, mas que, para ele, despertava algo profundo memórias de um amor interrompido há muitos anos.
A cada tic-tac, o som parecia atravessar o silêncio da sala e alcançar o passado. O relógio era idêntico ao que Laura, o grande amor de sua juventude, havia lhe dado antes de partir sem explicações. O desaparecimento atual e aquele antigo adeus pareciam agora conectados por um fio invisível, tecido pelo próprio tempo.
Henrique revisitou as pastas, as fotos e os relatórios. Nada parecia fazer sentido. Ainda assim, o som ritmado do relógio parecia guiá-lo. Ele lembrava de quando caminhavam juntos pelas ruas antigas, dos risos compartilhados e das promessas ditas ao entardecer. Agora, o som o chamava de volta, como se o tempo tivesse algo a revelar uma pista, uma lembrança, talvez um reencontro.
Na noite seguinte, o detetive retornou à cena do desaparecimento. O vento frio soprava pela janela aberta, e o reflexo da lua tremulava sobre o relógio. Quando o abriu novamente, percebeu uma inscrição quase apagada na tampa interna: “O tempo não apaga o que o coração insiste em guardar.” Era a caligrafia dela. Laura.
O impacto foi imediato. O caso, antes um simples mistério policial, tornava-se uma jornada íntima. Ele começou a cruzar datas, lugares e nomes até perceber uma coincidência: o local do desaparecimento era o mesmo onde Laura havia morado anos antes. O coração acelerou. O relógio marcava 23h59. Um minuto antes do reencontro com o passado.
No dia seguinte, uma carta chegou ao seu escritório. Sem remetente. Dentro, apenas uma foto: ele e Laura, jovens, sorrindo em frente a um relógio de parede. Atrás da imagem, um bilhete curto “Nem tudo que se perde está realmente perdido.” Era a caligrafia dela novamente.
Henrique olhou pela janela. O som do relógio de bolso ecoava mais alto, misturando-se ao barulho distante da cidade. Pela primeira vez em anos, ele não sabia se investigava um crime ou se buscava uma segunda chance. No fundo, entendia que ambos os caminhos levavam ao mesmo destino: o reencontro que o tempo quase apagou.
“Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.”







