Vento de Outono
As folhas secas dançavam pelo chão do velho cemitério, empurradas por um vento que trazia o perfume suave das lembranças. Helena, uma escritora acostumada a transformar dores em palavras, observava as lápides gastas pelo tempo. Ela não buscava apenas histórias buscava respostas. Nas últimas semanas, mensagens anônimas haviam sido deixadas sobre túmulos esquecidos, escritas com uma caligrafia que lhe parecia inquietantemente familiar.
Cada envelope trazia uma citação retirada de seu primeiro romance, aquele inspirado por um amor que ela acreditava ter ficado no passado. As palavras eram como ecos de um tempo que o outono insistia em reviver. A polícia descartara qualquer ligação criminosa, mas para Helena, havia algo mais um segredo enterrado entre o pó e a saudade.
Determinada, ela começou a seguir o rastro das mensagens. Em uma delas, leu: “A verdade se revela onde o vento toca as folhas.” O recado a conduziu ao Solar dos Pinheiros, uma antiga propriedade onde o silêncio parecia respirar entre paredes cobertas de hera. Lá, encontrou o que jamais esperava: Rafael, o homem que havia inspirado suas primeiras páginas e suas últimas lágrimas.
Ele surgira como um fantasma que o tempo esqueceu de apagar. Os anos haviam marcado seu rosto com rugas discretas, mas o olhar permanecia o mesmo intenso, firme, ainda capaz de atravessar a névoa das incertezas. Rafael explicou que também vinha recebendo mensagens. Nelas, uma voz desconhecida parecia querer reuni-los, como se o destino tivesse guardado algo que ainda precisava ser dito.
Juntos, começaram a decifrar os enigmas deixados em cada cemitério da cidade. As mensagens misturavam citações literárias e coordenadas de locais específicos. Em cada ponto, encontravam algo uma foto antiga, uma carta, um objeto de valor simbólico. Aos poucos, perceberam que tudo remetia ao passado de ambos: o romance que viveram, o livro que ela escreveu, o segredo que os separou.
Em uma tarde fria de outono, descobriram o último túmulo indicado. Sob as folhas douradas, um envelope estava parcialmente enterrado. Dentro, havia uma carta escrita por Clara, amiga de juventude e editora de Helena, falecida há mais de uma década. Nela, Clara confessava ter guardado segredos sobre o verdadeiro motivo da separação do casal. Rafael fora afastado por mentiras não por falta de amor. E agora, do além, ela tentava corrigir o erro que os distanciara.
A revelação os envolveu em um silêncio profundo. Entre lágrimas e sorrisos, Helena percebeu que o vento de outono não trazia apenas lembranças trazia redenção. As folhas que caíam ao redor pareciam celebrar o renascimento de algo que nunca morrera por completo.
De mãos dadas, caminharam entre os túmulos, sentindo o frio se transformar em calor. O passado, finalmente, encontrava paz. E nas páginas que Helena voltaria a escrever, o amor deixaria de ser lembrança para tornar-se eternidade.
“Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.”