Em meio aos desastres ambientais causados pelas queimadas, uma verdadeira devastação das florestas brasileiras, o primeiro pensamento que temos é que estamos em apuros. E a situação não está nada boa mesmo. Em 2020, até o início de outubro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 175.671 focos de queimadas em todos os biomas brasileiros. O índice é o maior desde 2010, quando foram registrados 257.100 focos neste período.
O Brasil tem uma meta de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030 para cumprir o Acordo de Paris. E, na contramão de toda essa destruição, há iniciativas pelo país afora que valem a pena conhecer.
Uma delas é a história de Silvany Lima, moradora da zona rural de Pintadas, que em 2009 viu no umbu, uma fruta típica do semiárido do Nordeste, não só geração de renda para a comunidade, mas benefícios ambientais também.
Sofrendo com diminuição da água que afetava a produção agropecuária o forte da região é o leite , começou a pensar em alternativas para o problema, e uma delas veio do umbuzeiro.
Tudo começou com um grupo de mulheres que queria ter a sua própria fonte de renda, sem depender dos maridos. Criamos uma associação de mulheres agricultoras e a Cooperativa Ser do Sertão para produzir suco de umbu, conta Silvany.
A produção manual deu lugar à fábrica, que contava com 15 mulheres. Agora, a cooperativa tem mais de 150 pessoas envolvidas, a maioria mulheres.
A cooperativa Ser do Sertão não planta, mas preserva o que tem e que antes era destruído por queimadas. Percebemos que não precisava disso para criar os animais e que, na verdade, só prejudicava. Foi um trabalho lento, mas conseguimos, pouco a pouco, conversar com a comunidade e convencer sobre a importância da conservação, conta.
Biodiversidade
Já Bruno Mariani decidiu deixar o mercado financeiro para criar a Symbiosis Investimentos, uma empresa que planta e gera madeira de alta qualidade para construção civil, como produção de pisos, móveis, portas e janelas.
A vontade de Bruno é antiga, surgiu ao longo da sua carreira internacional em um banco. O fato de os estrangeiros sempre falarem sobre a biodiversidade brasileira e que não tinham como investir ajudou a tirar a ideia da cabeça e formatar o projeto em 2007.
Associar a métrica e rigor matemático ao reflorestamento deu certo: Uni o conhecimento do mercado financeiro, estudei biologia, ecologia e busquei um time coeso. Em 2010, comprou a primeira fazenda em Porto Seguro, no sul da Bahia.
Ele compara a complexidade do mercado financeiro à ecologia. A forma de combinar também gera resultados diferentes. Foi um desafio muito grande. No Brasil, temos um sistema de monocultura que é bem simplificado, mas que não traz os benefícios da ecologia. As florestas mistas têm muitos benefícios, principalmente na fauna, analisa.
A Symbiosis funciona assim: busca sócios para investir na empresa, que por sua vez investe no reflorestamento em larga escala. Desenvolvemos o modelo e agora buscamos captação de novos sócios, diz. Hoje são 14. Foram 10 anos de testes para comprovar que o modelo é rentável.
Na terceira fase, a empresa projeta abrir o capital na bolsa de valores. Isso deve levar mais 10 anos. Para investir em reflorestamento hoje na bolsa brasileira, é possível comprar ações de empresas de produção de papel e celulose que focam em uma única espécie.
Atualmente, com uma área de 1.500 hectares em Porto Seguro, são aproximadamente 1,2 milhão de árvores e 56 espécies diferentes plantadas. Para o modelo de expansão serão mantidas 20 espécies, que foram as que se comportaram e se desenvolveram melhor. A ideia é expandir para outras regiões do país, mas Bruno considera que o sul da Bahia tem um solo que contribui para o reflorestamento.
Florestas
Essas duas histórias são retratadas na websérie Caras da Restauração, produzida pelo WRI Brasil, um instituto de pesquisa que atua em três áreas: cidades sustentáveis, clima e florestas. Miguel Calmon é diretor do programa de florestas do WRI, que trabalha principalmente na recuperação e redução de áreas degradadas e na conservação.
No Brasil há enormes áreas que poderiam beneficiar a população e contribuir para a melhoria da qualidade da água, redução da erosão, qualidade do solo e mudanças climáticas. São inúmeros benefícios ambientais, sociais e econômicos, afirma.
Na prática, o instituto percorre o país para mostrar o valor de recuperar uma área degradada. Vamos em um local e ajudamos a identificar as oportunidades de restauração naquela região, e, ao fazer isso, começa o processo de engajamento de atores interessados e quem pode se beneficiar com aquilo, explica.
De acordo com Miguel, o papel do instituto é oferecer ferramentas, metodologia, capacitar os moradores, acompanhar o processo e monitorar os resultados.
A série foi criada para mostrar ao Brasil que por trás da restauração tem pessoas que acreditam e pessoas sendo beneficiadas. Ou seja, mostrar que a degradação não cria benefício nenhum para a sociedade, ao contrário da restauração, completa.
Para isso, o WRI realiza um mapeamento pelo país, em busca de regiões que podem passar por essa restauração, mas quem tiver conhecimento de uma iniciativa ou ideia que ajude a melhorar as florestas brasileiras, também pode entrar em contato com o instituto.
Fonte: https://www.modaisemfoco.com.br/