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Ficção 08/03/2025

A Inquilina Silenciosa

A Inquilina Silenciosa

Quando Lucas assinou o contrato de aluguel daquele antigo apartamento no centro da cidade, ele não imaginava que sua vida mudaria de forma tão estranha. O prédio era antigo, com um cheiro de madeira envelhecida e corredores estreitos, iluminados por lâmpadas fracas. O preço estava abaixo do mercado, o que o deixou desconfiado, mas como precisava de um lugar para ficar imediatamente, decidiu não pensar muito sobre isso.

Os primeiros dias foram tranquilos. O apartamento era pequeno, mas aconchegante. Lucas organizou seus livros, montou sua escrivaninha perto da janela e tentou se adaptar à nova rotina. Foi só na terceira noite que ele notou algo diferente.

No silêncio da madrugada, ele ouviu o som de passos leves no corredor. No início, achou que fosse um vizinho chegando tarde da noite. Mas os passos continuavam, ritmados, vagando pelo corredor sem direção. Curioso, ele se levantou, abriu a porta e olhou para o corredor vazio. Nenhuma alma à vista.

Na noite seguinte, os passos voltaram, acompanhados de um leve arranhar na parede. Lucas decidiu perguntar ao porteiro sobre os vizinhos.

Os apartamentos aqui estão praticamente todos vazios respondeu o porteiro com um tom casual. Só você e uma senhora moram nesse andar.

Que senhora? perguntou Lucas, confuso.

A senhora do apartamento 304. Nunca a vi saindo, mas o nome dela está na lista de moradores há anos.

Lucas voltou para o apartamento intrigado. O 304 ficava logo ao lado do seu. Começou a prestar atenção aos sons. Os passos voltavam todas as noites, seguidos de leves sussurros e um choro abafado. Em uma madrugada de insônia, ele decidiu bater na porta do 304.

Bateu três vezes. Nada. Quando estava prestes a se virar para ir embora, a porta rangeu levemente, se entreabrindo.

Olá? chamou ele, hesitante.

A luz fraca do corredor revelou o interior escuro do apartamento. Ele empurrou a porta e entrou. A sala estava coberta de poeira, os móveis envoltos em lençóis amarelados. No canto, havia uma poltrona voltada para a janela.

Tem alguém aqui? perguntou, com a voz trêmula.

A poltrona girou lentamente. Sentada ali estava uma mulher de cabelos grisalhos, vestida com um robe branco desbotado. Ela o encarava com olhos fundos, sem expressão.

Você é... a senhora que mora aqui? ele perguntou.

Ela não respondeu. Ficou em silêncio, observando-o. Então, levantou a mão e apontou para a parede que dividia os dois apartamentos.

Ela está lá disse a mulher, com uma voz rouca.

Lucas olhou para a parede e viu uma rachadura fina que ia do chão ao teto. O som dos passos ecoou de novo, agora mais próximos. Ele sentiu o peito apertar. Quando olhou para trás, a mulher tinha desaparecido.

Lucas voltou correndo para seu apartamento, trancou a porta e ficou ali, imóvel. Os passos continuaram, mas agora ele conseguia ouvi-los dentro do apartamento. Um arranhar insistente na parede, uma respiração próxima demais.

Na manhã seguinte, ele pediu para rescindir o contrato de aluguel. O porteiro aceitou sem questionar. Enquanto Lucas saía, carregando as malas, o porteiro comentou:

Uma pena você ir embora tão cedo. As pessoas nunca ficam muito tempo. Desde que a antiga inquilina desapareceu, o apartamento ao lado ficou... inquieto.

Lucas sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Olhou para o prédio uma última vez antes de ir embora. Na janela do 304, ele viu uma figura parada. A mulher de cabelos grisalhos o observava, imóvel, enquanto o som dos passos ecoava ao longe.

Ela era a inquilina silenciosa. E talvez nunca tivesse saído dali.


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