O traficante impunha respeito por meio do dinheiro ou força e sabemos que essa forma de liderança tem prazo de validade, em pequena ou grande escala
A história é repleta de gênios do mal. Em comum, esses personagens são atrevidos, ambiciosos e manipuladores, capazes de construir e derrubar impérios para terem suas vontades realizadas e o ego massageado. Pablo Escobar, que dominou o tráfico global de cocaína e aterrorizou a Colômbia entre os anos 80 e 90, é uma dessas figuras. Desde que estreou no Netflix a série Narcos, sobre sua trajetória, o interesse por assuntos relacionados a ele tem crescido. E um dos aspectos em debate - e que nos interessa aqui - é o que foca em seus métodos de gestão. Desde que a produção dirigida por José Padilha (diretor de Tropa de Elite) e estrelada por Wagner Moura foi lançada, um monte de gente começou a falar sobre as "virtudes" do narcotraficante enquanto administrador. Desculpem dizer, mas é tudo balela.
O patrão, como era chamado, começou sua história no crime contrabandeando eletrodomésticos e, em seguida, migrou para o tráfico de drogas. No final da década de 1970, foi o primeiro a exportar cocaína colombiana para o mundo e chegou a dominar aproximadamente 80% do comércio global da droga. Na época, o retorno de Escobar sobre o investimento era o sonho de qualquer empresário: 20.000%. Isso significa que para cada 1 dólar que ele investia, recebia 200 em troca. Sua rede de informantes era vasta, tinha dinheiro, poder e a simpatia da população. Então, como eu posso dizer que esse cara era um mau administrador? Simples: ele colocou tudo a perder. Como? Combinando a total ausência de inteligência emocional com níveis extremamente elevados de vaidade. Tudo isso temperado com a fina arte de conquistar mais inimigos que aliados.
Vaidade
Se o simples acúmulo de riquezas fosse a melhor maneira de medir o sucesso e a qualidade de um administrador, poderíamos dizer que Escobar foi melhor gestor que qualquer grande mente que costumamos citar por aqui. Mas Administração é muito mais do que um número na conta bancária ou, no caso do traficante, carregamentos de notas enterrados pelo país.
Em determinado momento dos negócios, o faturamento de Escobar era de um milhão de dólares por dia, desfrutados em mansões, apartamentos luxuosos, carros importados, viagens e várias outras extravagâncias. Para se ter ideia, na fazenda que nomeou como “Nápoles”, instalou um zoológico com animais trazidos de todas as partes do mundo.
No entanto, todas as vantagens foram insuficientes, já que como líder e administrador, o traficante era incapaz de controlar o próprio ego. Pablo Escobar impunha respeito por meio do dinheiro ou força e sabemos que essa forma de liderança tem prazo de validade, em pequena ou grande escala.
Para não dizer que Escobar não tinha qualidades de gestor, ele era obstinado e destemido, características essenciais para quem deseja empreender e dominar o mercado de alguma forma. No mais, ele conseguiu destruir tudo que conquistou justamente por ser um péssimo comandante, tomando péssimas decisões sucessivamente. Quase sempre por pura vaidade.
Inteligência emocional zero
Sua falta de inteligência emocional e controle o levaram a explodir aviões, prédios do governo e assassinar pessoas públicas, atitudes que despertaram a ira do governo colombiano, dos Estados Unidos e de outros cartéis da droga, deixando-o extremamente vulnerável. Pablo Escobar acreditava que tudo lhe era possível e desafiou os limites da lei ao se candidatar deputado (acredite, ele fez isso!).
Mesmo a simpatia que ele conquistou entre seus funcionários e a população mais pobre por seu estilo "paizão" foram mitigadas pela violência de suas ações. Ele esfacelou a boa imagem de Robin Hood que construiu e passou a representar pânico entre os colombianos. Se antes Escobar era símbolo de empatia, de repente, se tornou símbolo de horror. A partir de um determinado momento da vida, ele começou a viver desconfiado de tudo e de todos, e passou a tomar decisões extremas diante do mais simples problema, como matar um dos melhores amigos a pauladas por desconfiar que ele o estava roubando. Isso, mais tarde, acabou lhe custando a própria vida.
Plata o plomo
Por ter conseguido construir sua própria penitenciária e controlar a distância que estaria do domínio da polícia, muitos enaltecem Pablo Escobar como negociador. Mas, na verdade, tudo que ele pode é ser considerado bom em fazer exigências e amedrontar autoridades. Uma negociador sagaz compreende suas próprias emoções e sabe dominá-las. O emocional de Escobar era frágil e as negativas que recebia eram contornadas na política da força. Administradores inteligentes sabem que é preciso flexibilidade e paciência para selar bons negócios. Os métodos dele, por outro lado, consistiam na imposição do medo. O governo cedia às chantagens por que sabia que o traficante era capaz do inimaginável (como colocar uma bomba num avião com mais de 100 pessoas em que estaria o presidente da República). Definitivamente, isso não é negociar.
E você, o que pensa sobre os métodos de Escobar? Deixe seu comentário.