Nos últimos meses, uma tendência inusitada ganhou espaço nas redes sociais: o uso de chupetas por adultos. Inicialmente encarado como uma brincadeira ou uma forma de aliviar o estresse, o hábito ultrapassou barreiras e passou a ser adotado até por influenciadores digitais. A moda, no entanto, acendeu um alerta entre profissionais de odontologia, que apontam sérios riscos à saúde bucal e à articulação mandibular.

Especialistas explicam que a sucção contínua, fora do contexto infantil, impõe uma pressão anormal sobre os dentes e o arco dentário. Essa força extra pode provocar desalinhamentos, abertura de espaços e alterações na mordida, como a chamada mordida aberta ou cruzada. Além do impacto estético, esses problemas comprometem a função mastigatória e podem demandar tratamentos longos, como o uso de aparelhos ortodônticos ou até cirurgias corretivas.

Outro ponto de preocupação é a articulação temporomandibular (ATM), responsável pelos movimentos de abrir e fechar a boca. O uso prolongado da chupeta pode sobrecarregar essa região, gerando dores, estalos e, em casos mais graves, distúrbios funcionais que afetam até a fala. Além disso, pequenas lesões na mucosa oral e a proliferação de bactérias na superfície da chupeta ampliam os riscos de cáries, inflamações gengivais e infecções.

A adesão a essa prática tem raízes emocionais. Em tempos de ansiedade, tensão e sobrecarga, muitos adultos recorrem a objetos que funcionam como válvulas de escape. A chupeta, nesse contexto, desempenha um papel semelhante a brinquedos antiestresse ou técnicas de automassagem, oferecendo uma sensação imediata de calma. Porém, ao contrário de estratégias seguras de relaxamento, esse alívio momentâneo pode custar caro para a saúde bucal.

Psicólogos reforçam que é natural buscar mecanismos de conforto diante da rotina acelerada. Entretanto, destacam que existem métodos mais saudáveis e eficazes, como exercícios de respiração, atividades físicas regulares, práticas de meditação e acompanhamento psicológico. Essas alternativas não apenas reduzem o estresse, mas também fortalecem o equilíbrio mental e emocional sem comprometer a saúde.

Enquanto a moda segue circulando nas redes, é fundamental que a conscientização avance no mesmo ritmo. O alerta dos profissionais é claro: a chupeta pode parecer apenas um acessório divertido ou uma "terapia improvisada", mas seus efeitos colaterais são sérios. Em muitos casos, o tratamento para corrigir os danos pode levar anos e exigir alto investimento financeiro.

Assim, a discussão não deve se limitar ao modismo, mas abrir espaço para refletir sobre como a sociedade lida com a ansiedade e busca alívio imediato. Cuidar da saúde mental é essencial, mas sempre por meios que não coloquem em risco outras áreas do bem-estar. Afinal, um hábito passageiro não deve se transformar em um problema permanente.